Os Bispos do Brasil reuniram-se em Aparecida, de 19 a 28 de abril, para a realização da 60ª Assembleia Geral Ordinária. Atualmente o Brasil conta com 485 Bispos, dos quais 157 são eméritos. 

Como este é o quarto e último ano da atual Presidência, o tema central da Assembleia foi a Avaliação Global da Caminhada da CNBB. A grande novidade foi a apresentação da nova edição do Missal Romano, com as modificações de tradução realizadas, já aprovado pela Santa Sé. Aconteceram também as eleições da nova Presidência da Conferência, dos presidentes das várias comissões, dos representantes no CELAM e no Sínodo dos Bispos. A Mensagem ao Povo Brasileiro revela nosso olhar de pastores, com expressões de sensibilidade existencial e de esperança, e também com indicações de prioridades que precisam ser assumidas para enfrentar os grandes desafios do momento que vivemos, para que cresça em nosso meio o Reino de Deus.

As reflexões e partilhas que realizamos nestes momentos são importantes; mais importante, porém, é a convivência com todos os bispos do Brasil, de todas as regiões, com vivência partilhada em clima de oração, que nos permite conhecer melhor as riquezas e também os grandes desafios para a evangelização da Igreja em todo o território nacional, e crescer na fraternidade e na unidade. Vivemos um grande momento de colegialidade e sinodalidade. 

Entre muitos assuntos de interesse da Igreja que foram tratados, desejo chamar a atenção para a reflexão apresentada pela Comissão para a Doutrina da Fé, que trata justamente do grande desafio da fé nos dias atuais. De fato, é grande o número de batizados que “não são conscientes sequer dos ensinamentos básicos da fé”, num contexto onde a “ditadura do relativismo” questiona a fé. Tudo isto numa realidade que exige “testemunho martirial/profético, exigente, desinstalador. Não serve a opção pelo conformismo e indiferença".

Devemos nos perguntar como “temos conseguido dar as razões de nossa esperança a partir da fé, em meio às crises atuais”. É preciso lembrar São Paulo quando afirma que “sem fé é impossível agradar a Deus” (Hb 11,6). Essa é uma questão existencial, como afirma o Papa Francisco: “Quando a fé esmorece, há o risco de esmorecerem também os fundamentos do viver” (cf. Lumen fidei, 55).

A reflexão da Comissão enumera questões prioritárias para as quais a Igreja precisa hoje dar resposta qualificada, como “(1) a experiência religiosa feita nas redes sociais; (2) o surgimento de grupos ultraconservadores com matiz tradicionalista; (3) o desequilíbrio entre a ortodoxia e a ortopraxia; (4) a questão da fragilidade e da finitude da vida humana; (5) o surgimento de um novo paradigma pós-cristão que toca, particularmente a concepção de família e da sexualidade; (6) a falta de pertença à Igreja local e paroquial; (7) a unidade da Igreja na pluralidade, que no entanto, deve manter, a comunhão indivisível em torno da “Regula Fidei”; (8) a ausência de Deus no debate público; (9) a dificuldade em acolher a existência de uma Verdade revelada."

Na conclusão dessa reflexão, temos uma síntese da questão e do compromisso que devemos assumir. “Ser tentado na fé sob um plano cultural é uma das provas mais duras das pessoas e principalmente do cristão. Em especial em nossa época, na qual a ciência e o poder econômico se aliam para questionar tudo, e tudo colocar de acordo com seus parâmetros. Muitos já separaram a vivência da fé, da prática da fé, da religião e da própria vida. É preciso, portanto, retomar, recomeçar, a partir de Jesus Cristo (CELAM, Documento de Aparecida, 244-245). Voltar a Jesus Cristo, às origens é voltar ao essencial, retomar o “coração da fé”, ao Evangelho do Reino. Precisamos transmitir uma fé capaz de dar esperança para sustentar a vida do povo. Encontramos algumas dificuldades que precisamos resolver com muito discernimento e coragem, quanto a esta questão da transmissão da fé. Confiemos na ação do Espírito, enviado sobre os apóstolos em Pentecostes. Ele nos escolheu e ungiu, para sermos cooperadores da verdade (cf. 3 Jo 8). Ele jamais nos faltará!"