No primeiro dia do ano celebramos a solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus. 

Por iniciativa do Papa São Paulo VI, desde 1968, a Igreja celebra também em primeiro de janeiro o Dia Mundial da Paz. O papa justifica a proposta com estas palavras: “Desejaríamos que depois, cada ano, esta celebração se viesse a repetir, como augúrio e promessa, no início do calendário que mede e traça o caminho da vida humana no tempo que seja a Paz, com o seu justo e benéfico equilíbrio, a dominar o processar-se da história no futuro. Nós pensamos que esta proposta interpreta as aspirações dos povos, dos seus governantes e das entidades internacionais que intentam conservar a Paz no mundo; das instituições religiosas, tão interessadas no promover a Paz; dos movimentos culturais, políticos e sociais que fazem da Paz o seu ideal; da juventude, em quem mais vivas estão as perspectivas de caminhos novos de civilização, necessariamente orientados para um seu pacifico desenvolvimento; dos homens prudentes que veem quanto a Paz é necessária e, ao mesmo tempo, quanto ela se acha ameaçada."

O desejo do Papa continua sendo realizado, e cada ano tem recebido uma Mensagem especial do Pontífice do momento, ressaltando aspectos e empenhos específicos. Para este ano a Mensagem do Papa Francisco tem como foco a Inteligência Artificial e a Paz. Fala sobre o progresso da ciência e da tecnologia como caminho para a paz, mas alerta também para os riscos que podem apresentar para a sobrevivência humana e para a casa comum, quando mal orientadas. Assim também as novas tecnologias da informação apresentam muitas oportunidades, mas também riscos, com implicações graves para a prática da justiça e a harmonia entre os povos.

Estes recursos extraordinários que poderiam ser a grande alavanca do diálogo que aproxima pessoas, e da construção da paz, tem-se tornado instrumentos de divisão e conflitos, de disseminação de mentiras e falsidades, envenenando a mente e o coração das pessoas, desgastando o tecido social e provocando rupturas.

A mensagem do Papa alerta ainda para o desafio da tecnologia do futuro, com interferências na vida das pessoas e no mundo do trabalho. Máquinas que aprendem sozinhas e produzem conteúdos robotizados a partir de algoritmos, podem até “alucinar”pessoas com conteúdos infundados ou preconceituosos, e geram desconfiança com relação aos meios de comunicação. A tudo isso deve-se acrescentar também outras questões negativas do uso indevido desses meios, como “a interferência nos processos eleitorais, a formação duma sociedade que vigia e controla as pessoas, a exclusão digital e a exacerbação dum individualismo cada vez mais desligado da coletividade. Todos estes fatores correm o risco de alimentar os conflitos e obstaculizar a paz”.

O Papa menciona também as graves questões éticas relacionadas com os armamentos e as guerras. Os novos recursos possibilitam operações militares através de sistemas de controle remoto. O que significaria nesse contexto a expressão profética “transformar as espadas em relhas de arado?".

O Papa responde indicando como a inteligência artificial pode ser utilizada para promover o desenvolvimento humano integral e contribuir com as instituições educativas e o mundo da cultura: introduzindo inovações importantes na agricultura, na instrução e na cultura, uma melhoria do nível de vida das nações e povos, promovendo o pensamento crítico, o crescimento da fraternidade humana e da amizade social. Em última análise, a forma como a utilizamos para incluir os últimos, isto é, os irmãos e irmãs mais frágeis e necessitados, é a medida reveladora da nossa humanidade."

A conclusão da Mensagem nos remete imediatamente à Campanha da Fraternidade deste ano com o tema “Fraternidade e amizade social”. Diz o Papa Francisco: “Espero que esta reflexão encoraje a fazer com que os progressos no desenvolvimento de formas de inteligência artificial sirvam, em última análise, à causada fraternidade humana e da paz. Não é responsabilidade de poucos, mas da família humana inteira. De fato, a paz é fruto de relações que reconhecem e acolhem o outro na sua dignidade inalienável, e de cooperação e compromisso na busca do desenvolvimento integral de todas as pessoas e de todos os povos. No início do novo ano, a minha oração é que o rápido desenvolvimento de formas de inteligência artificial não aumente as já demasiadas desigualdades e injustiças presentes no mundo, mas contribua para por fim às guerras e conflitos e para aliviar muitas formas de sofrimento que afligem a família humana. Possam os fiéis cristãos, os crentes das várias religiões e os homens e mulheres de boa vontade colaborar harmoniosamente para aproveitar as oportunidades e enfrentar os desafios colocados pela revolução digital, e entregar às gerações futuras um mundo mais solidário, justo e pacífico."