Por: Yvie Favero.

 

Com o auditório lotado nos três dias de evento, a Universidade Católica de Santos (UNISANTOS), recebeu a Semana Teológica para Leigas e Leigos da Diocese de Santos.

O evento, organizado pelo Conselho Nacional do Laicato em Santos, Conselho de Leigas e Leigos da Diocese de Santos (CNLB/CODILEI), com apoio da Pastoral da Cidadania, do Instituto São José, da UNISANTOS e da Diocese de Santos, teve como lema Vocação, Graça e Missão e como assessor, o padre Alfredo Gonçalves, o Alfredinho.

A semana foi aberta por D. Tarcísio Scaramussa, que participou da primeira noite do evento, que abordou a Teologia da Vocação. 

As três noites foram divididas em Teologia da Vocação, Teologia da Graça e Teologia da missão. No que se refere à Teologia da Vocação, pe. Alfredinho explanou sobre esta que é a chamada de Deus para todos e todas que são batizados, a vocação para sermos felizes e fazermos a obra dele, que é acolher a todos. 

Segundo o padre esta vocação tem a ver não somente com os ministérios ordenados (bispos, padres, diáconos), mas com todos os filhos e filhas de Deus que habitam a face da terra. Duas coisas são relevantes para a resposta e realização dessa dádiva divina: descobrir o quanto antes a própria aptidão e ler com discernimento os “sinais dos tempos”. 

Alfredinho também se aprofundou no que se refere ao olhar que devemos ter de perceber a aptidão de cada ser humano, a energia do dom vocacional que nos convida a olhar ao redor. A pergunta a ser feita é muito simples: nas circunstâncias sócio-histórico do momento atual, em que posso desempenhar melhor um compromisso com a justiça, o bem-comum, a fraternidade, a solidariedade e a paz? Aqui também está em jogo a realização pessoal.

Para o padre aqui estamos em uma encruzilhada, em que as duas coisas se entrelaçam, o olhar para a sociedade e a de olhas para as necessidades individuais de cada um. Se entrelaçam e podem complementar-se. “Isto é, a aptidão de cada indivíduo pode ser direcionada para as necessidades básicas mais urgentes da população como um todo. A tendência individual, a bem dizer, soma-se e casa-se com determinada carência social.”

Quando tratou da Teologia da Graça, retomou a afirmação de que Homens e mulheres são vocacionados a sermos felizes e que Deus nos chamou a fazer parte da sinfonia da criação, estando esta melodia no coração de todos nós. 

O padre chamou a atenção da plateia afirmando que embora esta natureza está em tudo e no fundo do coração de cada um de nós, há interferências que nos desconectam da sinfonia de Deus, são muitos os ruídos que sopram nos nossos ouvidos, ruídos sociais, políticos, econômicos. 

Padre Alfredinho declarou que “Vivemos numa sociedade rumorosa e que estes ruídos não nos permitem ouvir a melodia de Deus. Essa melodia é a Graça.” Para o sacerdote, rejeitamos a graça de Deus e nos distraímos com diferentes coisas. 

Em suas palavras “A graça é aquilo que Deus nos oferece gratuitamente que é fazer parte de sua criação”, entretanto, nós humanos temos as nossas preocupações mais importantes que a melodia de Deus e nos tornamos arrogantes, desta forma “A graça de Deus não penetra em quem está armado, o espírito não penetra numa garrafa cheia de água”, assim, faz-se necessário “Sair de si mesmo para ter um verdadeiro diálogo com Deus”

Em toda a explanação o padre deixou explicita a ideia de que a “A verdadeira oração nos devolve a realidade” e que há diferentes formas de vivenciarmos Deus, sendo “o Deus que se abaixa aquele que caminha com seu povo pelo caminho que se contrasta com os impérios vizinhos. O Deus dos impérios, aquele que está no templo, que vive na riqueza, gosta de fumaça e cheiro de carne, que se alimenta do sofrimento do seu povo.” Assim, “O Deus dos impérios vizinhos vive e justifica a opressão. O Deus de Israel acampa, é o Deus da tenda e aqui Deus está conosco”

É nossa missão retornar a Deus, lembrar os direitos, a liberdade, lembrar do “Anúncio do retorno de Javé para nos libertar, o Filho de Deus, Javé que se coloca a caminho e caminha conosco. Ele é tão frágil que sua única arma é o amor, que é como uma flor exposta ao vento” e que, portanto, faz-se necessário vivenciarmos este Deus do caminho, a Igreja em saída, a Igreja a caminho, na sinodalidade, da maneira de Deus, percebendo e agindo como Jesus, que por “meio da evangelização, Jesus abriu poços, onde se encontram luz e sombra, onde se planta e colhe”.

Este poço, para o padre é onde todos estamos, é mistura de água e sede, é local de diálogo, nos faz crescer, e lugar de graça, supõe a natureza. A graça de Deus respeita a liberdade humana, “Deus não vai te tirar do fundo do poço, ele vai indicar alguém que vai te ajudar a subir”, afirma Alfredinho.

Teologia da Missão foi o terceiro tema abordado e podemos dizer, resumidamente, que “missão é a participação de todos, de cada pessoa e da humanidade tomada como corpo na caminhada do reino de Deus e que a missão pela qual Jesus foi enviado pelo Pai”, Jesus a transmite aos seus discípulos. “Como o meu Pai me enviou, também eu vos envio”. O que se comunica não é somente o fato de ser enviado, mas todo o conteúdo do envio, a obra do Pai que é preciso realizar.

Tal realização deve se dar em totalidade, unida pelo sopro do mesmo Espírito com a maior diversidade de aplicações particulares.” Desde o Concílio Vaticano II, o povo de Deus começou a tomar consciência de que a Igreja toda é missionária” e que ela não tem outra razão de ser que não seja a missão, isto é, o envio a todos os povos, a partir de uma igreja unida e em saída, que faz a opção pelos pobres seguindo a Doutrina Social da Igreja. 

O objeto da missão é o anúncio da chegada do reino de Deus. “O reino de Deus é a libertação dos pobres: a realização das bem-aventuranças, a realização das promessas proclamadas por Maria”.

A missão da Igreja é anunciar, proclamar o evangelho, e trabalhar para o advento. “Jesus não veio anunciar um milagre, mas a chegada de uma era nova em que os próprios pobres, animados pelo Espírito de Deus, poderiam recuperar a vida, recuperar a liberdade, a dignidade humana.”

Amor, esperança, fé, conversão e vocação para a liberdade fazem parte desta missão. O evangelho é o anúncio da liberdade, e este anúncio é também apelo. “Vocês foram chamados à liberdade”, escreve S. Paulo aos Gálatas (Gl 5,13).

Encerramos a Semana teológica para o Laicato com a certeza de que missão é comunicação com pessoas, consiste em trazer alegria, confiança, esperança às pessoas. Parte da situação em que cada pessoa está, e, por isso, apresenta a mensagem de Jesus na sua realidade, a mensagem das bem-aventuranças no linguajar que cada pessoa entende. 

A missão é vocação para a liberdade. A mensagem fundamental da missão é a esperança como reencantamento da vida, na partilha do pouco que temos e na articulação dos muitos que somos. A missão é missão de uma comunidade eclesial em defesa da vida.