Por: Yvie Favero.

Como é que não sabeis avaliar os sinais do tempo presente? Lc 12,56

Democracia foi o ponto de partida para representantes da Diocese de Santos participarem da Plenária Estadual Virtual da 6ª SSB – O BRASIL QUE QUEREMOS, ocorrida neste final de semana. A partir do texto redigido pela representante santista, Yvie Favero, demais participantes refletiram acerca da democracia e a participação do Laicato pela defesa dos processos democráticos e participação cidadã pelo bem comum. 

O que é democracia? Que democracia temos, que democracia queremos? Quem cabe nesta democracia? Os conceitos de democracia trazem, quase sempre, a concepção de regime político: o poder que o povo coloca, por meio do voto, nas mãos de representantes, para legislarem e governarem, em seu nome. Mas este é o sentido humano de democracia? Como podemos resgatá-lo?A democracia vai além dos espaços institucionais, deve ser uma realidade nas relações de trabalho, nas organizações das lutas sociais e populares, inclusive nas relações afetivas. 

Neste sentido amplo de democracia, os movimentos populares, em suas várias expressões, são um espaço rico para se aprender e exercitá-la. Quando falamos em democracia falamos em participação popular ativa e a democratização do Estado, vinculadas à força dos movimentos e organizações populares (síntese do projeto Brasil Popular). Considerando as múltiplas opressões na sociedade brasileira, é de fundamental importância a organização de diversos sujeitos coletivos em nossa sociedade e as práticas concretas, a democratização da sociedade, a recuperação e construção dos bens comuns, o enfrentamento das elites e a construção de um posicionamento emancipador e libertário. (p. 7, Caderno Democracia 6ª semana social). É triste ver que a maioria da população brasileira está assistindo a tudo isso (mesmo após as eleições) sem entender e sem saber que não está entendendo.

Vítima do intenso processo de despolitização neoliberal dos anos 1990 e retomado em 2013, essa massa popular tem sido alvo de todo tipo de violência – física, cultural, econômica e ideológica – sem que o Estado venha em sua defesa. Seria ingênuo esperar a reversão dessa despolitização sem um amplo processo de educação popular, que leva tempo. Fatos recentes como aos ataques à democracia e as instituições democráticas; aumento da pobreza e do adoecimento das pessoas; aumento dos riscos para as mulheres, com destaque para as negras e populações LGBTQIAPN+, pessoas com deficiência e pessoas em situação de rua; desmonte radical da seguridade social foram cruciais para a desigualdade social e aumento da violência (p7. Caderno Democracia 6ª semana social).

É importante que haja efetiva participação popular, visando a conscientização, é necessário criar e participar de Grupos de Acompanhamento Legislativo (GAL) e também de acompanhamento dos demais poderes públicos, Executivo e Judiciário, além de Conselhos de Políticas Públicas e de Audiências Públicas para exercer o controle social sobre os poderes constituídos. São muitas as possibilidades e as atividades que podemos fazer: programas de rádio para despertar a consciência crítica, enfrentar a criminalização da política e resgatar sua dignidade; promover reuniões nas casas e rodas de conversa para debater candidaturas que atendam aos critérios acima apresentados; mobilizar grupos de pastoral, comunidade, associação de moradores ou movimento popular para pesquisar a trajetória política das pessoas que estão se candidatando e apoiar as candidaturas que melhor atendam aos interesses do bem comum, especialmente dos setores sociais desfavorecidos. (p 55. Encantar a política. CNBB).

Para pensarmos: Qual o contexto do tema democracia na conjuntura do estado de SP? Quais as ações que faremos para levar adiante as propostas da democracia para o Brasil? Reflexões após a discussão:Contribuíram nesta discussão o coordenador do Conselho Diocesano de Leigos e Leigas da Diocese de Santos,  (CODILEI/CNLB) Paulo Roberto  Silvino Soares, Jose Gimenes, da coordenação estadual da Sexta Semana, Stella Almeida, do Grito dos Excluídos e Rogério.  O grupo chegou à conclusão que democracia que temos é extremamente fragilizada e recente, não podemos estar desatentos pois o plano e movimento político antidemocrático/fascista esta organizado e preparado para desestruturar tudo o que construímos até então. 

A democracia é uma construção, mas a que temos atualmente vem de processos de vulnerabilidade e necessita de uma força estruturante, o que conseguimos fortalecer nos nossos movimentos de luta com as bases. 

Para alcançar a democracia que queremos, de forma ampla e não só no âmbito religioso, a educação é imprescindível. Vemos a educação como ferramenta de mudança social, ajudando as comunidades a sair da falsa neutralidade política e se colocando de forma a movimentar melhorias ao seu redor, através de uma criticidade política e de políticas públicas, além de pensar uma diversidade existente, uma educação que seja antirracista, que pense e ensine sobre gênero e também sobre a luta de classes. 

O Papa Francisco levanta como primordial o pensar e fazer política como um dos caminhos para a caridade, para uma igreja que caminhe junto, que esteja em saída com os mais vulneráveis. Assim, através da educação de forma geral e do reforço e resgate da Doutrina Social da Igreja, conseguiremos caminhar no sentido de obter impactos sociais positivos na vida de muitas pessoas e famílias e, um passo de cada vez, continuar construindo uma democracia que caibam todos. 

A síntese deste trabalho foi apresentada e referendada por todos os participantes do encontro.  A próxima atividade estadual da Sexta Semana Social Brasileira acontecerá dia 19 de  novembro,  às 9h, na sede da CNBB, em São Paulo.