Antes do início da quaresma, tempo de preparação para a Páscoa, recebemos a alegre notícia da nomeação de Dom Joaquim Giovani Mol Guimarães como Bispo Coadjutor de nossa Diocese de Santos. Entre as manifestações de acolhida que recebi, a mais expressiva é certamente esta declaração de fé bíblica: “Bendito o que vem em nome do Senhor” (Sl 118,26). É uma aclamação de ação de graças do povo que, na liturgia, agradece a Deus pela manifestação de seu amor. De fato, a escolha de um bispo é precedida por um longo e árduo discernimento feito na Igreja, à luz do Espírito Santo que a assiste sempre e em todos os momentos. Na ação da Igreja reconhecemos a ação de Deus. De fato, se considerarmos tudo somente com critérios humanos ou de conveniências pessoais, ou de posições ideológicas, não seremos diferentes dos que somente vivem no materialismo e ali estão aprisionados, não enxergando nada além desse enquadramento. Por isso, a resposta litúrgica de reconhecimento a Deus é também prece confiante para que assista sempre e acompanhe com seu amor o escolhido, para que seja sinal e instrumento de sua misericórdia para o povo de Deus. O lema episcopal de Dom Joaquim Mol expressa bem essa convicção que ilumina e orienta toda a motivação de sua vida e de seu ministério: “Porque Deus é amor”.
A quaresma que iniciamos será vivida este ano no espírito do jubileu. Percorremos o caminho para a Páscoa como “peregrinos de esperança”, pois a Morte e Ressurreição de Cristo é o fundamento de nossa fé e de nossa esperança. Todo o caminho de conversão quaresmal nos leva a morrer e ressuscitar com Cristo novamente, como aconteceu em nosso Batismo. E assim crescemos em sabedoria e graça, como novas criaturas que peregrinam neste mundo na esperança de vida eterna.
Na quaresma do jubileu devemos avivar a chama do querigma em nossa vida, para reconhecer a verdade do Reino de Deus já presente neste mundo. Vamos avivar a consciência de que nascemos do alto pelo Batismo, lembrando o que Jesus disse a Nicodemos: “Em verdade, em verdade, te digo: se alguém não nascer do alto, não poderá ver o Reino de Deus”! Nascer do alto é viver em Cristo, deixando-nos guiar pelo Espírito Santo: “Se alguém não nascer da água e do Espírito, não poderá entrar no Reino de Deus. O que nasceu da carne é carne; o que nasceu do Espírito é espírito. Não te admires do que eu te disse: É necessário para vós nascer do alto. O vento sopra onde quer e ouves a sua voz, mas não sabes de onde vem, nem para onde vai. Assim é também todo aquele que nasceu do Espírito... De fato, Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho único, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna” (Cf. Jo, 3,1-15). É preciso renovar constantemente esta realidade de transformação que o Batismo realizou em nossa vida, e, utilizando a linguagem da Internet, continuar dando o “like” cotidianamente a Cristo e ao seu Evangelho, e ser seguidor fiel, discípulo missionário, propagador dele como caminho, verdade e vida.
Para que a conversão aconteça em nossa vida, a quaresma nos propõe as práticas que nos aproximam de Deus e de seu coração: o jejum, a oração e a esmola, como expressão da caridade.
Neste ano a Igreja nos convida a uma dimensão às vezes esquecida no processo de conversão. É a conversão ecológica, porque existe o pecado ecológico. O Papa Francisco tem alertado sobre o pecado ecológico, que são ações ou omissões contra Deus, contra o próximo e contra o meio ambiente, pecados que ferem a vida, que danificam a boa e bela obra da criação de Deus. Diz que o pecado mais perigoso de nosso tempo talvez seja a ruptura que estabelecemos entre humanidade e natureza, como se fôssemos superiores às demais criaturas, como se cada uma delas não tivesse valor intrínseco e não fosse capaz por si mesma de louvar a Deus. Na Laudate Deum faz esse alerta: “Ainda não estamos reagindo de modo satisfatório, e este mundo que nos acolhe está se desfazendo e, talvez, aproximando-se de um ponto de ruptura” (LD, n.2).
O antídoto para esse pecado é a conversão ecológica, que supõe uma mudança do modo de ser, pensar e agir, como pessoas e comunidade. Converter-se nesse sentido significa buscar a configuração a Cristo que nos leva a pensar e agir como ele, e assim viver em perfeita integração e harmonia com Deus, com os seres humanos e toda a criação, na qual a cultura do amor e da paz tenha a primazia. São Francisco de Assis é modelo admirável dessa configuração!
A Campanha da fraternidade, com seu tema “fraternidade e ecologia integral” é oportunidade de graça para crescer nesse sentido tão importante da fé católica. Recordar nossa responsabilidade com a obra da criação, e sobre a responsabilidade que Deus deu ao homem para dela cuidar, com sua bênção, como nos diz a Sagrada Escritura: “Deus criou o ser humano à sua imagem, à imagem de Deus o criou, homem e mulher os criou. E Deus os abençoou, e disse-lhes: ‘Sede fecundos e multiplicai-vos, enchei a terra e submetei-a! Dominai sobre os peixes do mar, sore as aves do céu e sobre todo ser vivo que rasteja pela terra’... E Deus viu tudo quanto havia feito, e era muito bom” (Gn 1, 28.31).