Recomeçamos nova etapa da missão, após a conclusão do jubileu centenário da Diocese de Santos. Com os olhos voltados para o próximo Jubileu de 2025 do nascimento de Jesus Cristo, seguimos o caminho de “Peregrinos de Esperança”, realizando o mandato de Jesus para lançar a rede. Buscamos lucidez para discernir os sinais dos tempos neste momento da história.
Quando a Diocese foi criada, em 1924, eram fortes as manifestações de ateísmo na sociedade. Intelectuais de peso da modernidade decretaram a “morte de Deus”, eviam a religião como superstição e instrumento de manipulação do povo. Também no interior das comunidades de fé percebia-se o avanço do processo de secularização, produzindo transformações na forma de vivência da fé, e crises nas práticas religiosas.
O processo de secularização já percebido no momento de criação da Diocese aprofundou-se também no Brasil. A época de cristandade, na qual a maioria da população se intitulava católica, dá lugar a grande pluralismo de mentalidades. Novas formas de ateísmo se afirmam, e a fé não é mais transmitida naturalmente na família.
Durante o Concílio, o papa Paulo VI se perguntava: “A asfixia espiritual na qual hoje tristemente se debatem na Igreja católica tantas pessoas e instituições não terá talvez a sua origem na prolongada ausência de um autêntico espírito missionário”?
A leitura que o Papa Bento XVI fez sobre a realidade em seu Motu Proprio “A Porta da Fé” no Ano da Fé continua atual. É necessário “intensificar a reflexão sobre a fé, para ajudar todos os crentes em Cristo a tornarem mais consciente e revigorarem a sua adesão ao Evangelho, sobretudo num momento de profunda mudança como este que a humanidade está vivendo”. Às vésperas de sua eleição como Pontífice, havia dito na homilia: “Quantos ventos de doutrina conhecemos nestas últimas décadas, quantas correntes ideológicas, quantas modas do pensamento. A pequena barca do pensamentode muitos cristãos, com frequência, fica agitada pelas ondas, levadas de um extremo a outro: do marxismo ao liberalismo, até o libertinismo; do coletivismo ao individualismo radical; do ateísmo a um vago misticismo religioso; do agnosticismo ao sincretismo. Enquanto que o relativismo, ou seja, o deixar-se levar ‘guiados por qualquer vento de doutrina’, parece ser a única atitude que está na moda. Vai-se construindo uma ‘ditadura do relativismo’, que não reconhece nada como definitivo e que só deixa como última medida o próprio eu e suas vontades”.
Na introdução ao documento de Aparecida, os Bispos da Conferência lembraram um alerta de Bento XVI que devemos ter sempre presente: Nossa maior ameaça “é o medíocre pragmatismo da vida cotidiana da Igreja, no qual, aparentemente, tudo procede com normalidade, mas na verdade a fé vai se desgastando e degenerando em mesquinhez”. É preciso, portanto, recomeçar a partir de Cristo, reconhecendo que “não se começa a ser cristão por uma decisão ética ou uma grande ideia, mas pelo encontro com um acontecimento, com uma Pessoa, que dá um novo horizonte à vida e, com isso, uma orientação decisiva” (Cf. DAp n.12).
Com o Papa Francisco, e com o seu programa de pontificado expresso na Exortação Apostólica Evangelii Gaudium (2013), a Igreja vem aprimorando a forma de responder a esses grandes desafios, buscando novamente no Concílio Vaticano II, a fonte inspiradora do novo jeito de ser Igreja (Sinodal, Missionária e Samaritana).
O discernimento no Espírito leva à ação, que o Papa chama de compromisso com o Reino. Como dizia Paulo VI: “a evangelização não seria completa, se ela não tomasse em consideração a interpelação recíproca que se fazem constantemente o Evangelho e a vida concreta, pessoal e social, dos homens”.
Neste centenário reativamos a memória do caminho aberto pelo Sínodo Diocesano que desembocou nas Diretrizes das Ação Evangelizadora e Pastoral na Diocese de Santos (2009), indicou três grandes prioridades pastorais para a ação interna da Igreja: catequese, família e juventude. Ao mesmo tempo, destacou cincopolos de atenção: porto, turismo, idosos, universidades, superação da miséria e da fome. Seguimos, portanto, nessa direção como indicação iluminada do discernimento eclesial.
O jubileu centenário colocou-nos também diante de um novo horizonte de ação missionária, ao selar nossa comunhão fraterna com a Diocese de São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas, que se tornou nossa Igreja Irmã.
O ardor missionário seja, portanto, fonte de novo respiro espiritual para nossa Igreja de Santos. A falta de elã evangelizador é sinal de aridez espiritual pessoal e comunitária, de afastamento da fonte da vitalidade apostólica, que é o encontro com o Senhor. Somente a partir desse encontro com o Senhor poderemos vivenciar a espiritualidade missionária do centenário acolhendo seu mandato expresso no lema“Lançai a Rede” (Jo 21,6).
Nossa Senhora do Rosário nos ajude a manter firme o ardor missionário suscitado na celebração do jubileu centenário da Diocese de Santos! O entusiasmo missionário deve ser o fruto da perene juventude desta Igreja que acaba de comemorar seu jubileu centenário.