As narrativas do encontro dos discípulos com Jesus, entre os quais as mulheres, após a Ressurreição, testemunham uma grande transformação em suas vidas. De fato, as pessoas deprimidas pela morte de Jesus, desanimadas pela frustração de terem visto ser sepultado aquele no qual haviam colocado toda a esperança, não são mais as mesmas depois do reencontro com o Senhor vivo, Ressuscitado.
A mística deste tempo pascal nos fala de vida nova, de passagem, de encontros transformadores com o Ressuscitado. Encontro como o das mulheres Maria Madalena, Joana e Maria, mãe de Tiago, e outras mulheres, as primeiras a irem ao túmulo e comunicarem a grande novidade. Encontro como o de Pedro e João, que encontram o túmulo vazio e acreditam que Jesus ressuscitou. Encontro como o dos discípulos de Emaus, desanimados, e de Tomé, descrente, que reencontram o sentido da vida e da esperança. Encontro às margens do lago de Tiberíades, quando Jesus aparece aos discípulos que estavam retomando a rotina da pesca, e os convida a segui-lo, a cuidar de suas ovelhas, a sair em missão, para outro tipo de pesca, aquela de águas mais profundas. Encontros que fortalecem a fé, a esperança, e levam ao testemunho. Encontros transformadores.
Após a morte e a ressurreição de Jesus Cristo os discípulos compreenderam finalmente toda a dimensão da verdade do Reino de Deus que já está presente neste mundo, embora ainda não manifestado plenamente. Por isso, caminham com um horizonte de vida eterna. A ressurreição de Cristo é o início de uma nova humanidade, como uma nova criação. Em Cristo somos chamados para morrer ao velho homem, para nascer como nova criatura. Neste ano do jubileu, a celebração da Páscoa nos firma na convicção de sermos “peregrinos de esperança”, da esperança que não decepciona, da esperança de Cristo que vence o pecado e a morte, de Cristo Ressuscitado, vivo para sempre e esperança de vida eterna.
A celebração da Páscoa nos faz reconhecer sua atualidade, pois a força do Senhor ressuscitado também se manifesta em nossa vida e nos tempos atuais. Quem aprofunda esta realidade da ação misteriosa do ressuscitado e do seu Espírito nos dias atuais é o Papa Francisco, na Evangelii Gaudium (Cf. nn. 275-280).
Primeiramente, ele cita situações comuns vividas neste momento, com suas consequências para a vida das pessoas, como a “carência de espiritualidade profunda que se traduz no pessimismo, no fatalismo, na desconfiança. Algumas pessoas não se dedicam à missão, porque creem que nada pode mudar e assim, segundo elas, é inútil esforçar-se”. A disposição dessas pessoas se caracteriza pela acédia, ou seja, uma preguiça que é fruto de melancolia profunda “que mirra a alma”, e leva as pessoas a sentirem-se sempre cansadas e sem garra para realizar qualquer coisa positiva pelos outros, sempre voltadas para si mesmas.
Em momentos assim, recorda o Papa, é necessário recordar que “Jesus Cristo triunfou sobre o pecado e a morte e possui todo o poder. Jesus Cristo vive verdadeiramente... Diz-nos o Evangelho que, quando os primeiros discípulos saíram a pregar, ‘o Senhor cooperava com eles, confirmando a Palavra’ (Mc 16, 20). E o mesmo acontece hoje. Somos convidados a descobri-lo, a vivê-lo. Cristo ressuscitado e glorioso é a fonte profunda da nossa esperança, e não nos faltará a sua ajuda para cumprir a missão que nos confia”.
Os sinais da ressurreição não são algo apenas do passado, mas estão presentes e se manifestam em nossa realidade atual. Vale a pena recordar isso com as próprias palavras do Papa: “Onde parecia que tudo morreu, voltam a aparecer por todo o lado os rebentos da ressurreição. É uma força sem igual”... Num campo arrasado, volta a aparecer a vida, tenaz e invencível. Haverá muitas coisas más, mas o bem sempre tende a reaparecer e espalhar-se. Cada dia, no mundo, renasce a beleza, que ressuscita transformada através dos dramas da história. Os valores tendem sempre a reaparecer sob novas formas, e na realidade o ser humano renasceu muitas vezes de situações que pareciam irreversíveis. Esta é a força da ressurreição, e cada evangelizador é um instrumento deste dinamismo”.
Recordando parábolas do Evangelho, o Papa convida a contemplar os sinais do ressuscitado intervindo misteriosamente com seu poder e criatividade infinita: “Acreditamos no Evangelho que diz que o Reino de Deus já está presente no mundo, e vai-se desenvolvendo aqui e além de várias maneiras: como a pequena semente que pode chegar a transformar-se numa grande árvore (cf. Mt 13, 31-32), como o punhado de fermento que leveda uma grande massa (cf. Mt 13, 33), e como a boa semente que cresce no meio do joio (cf. Mt 13, 24-30) e sempre nos pode surpreender positivamente: ei-la que aparece, vem outra vez, luta para florescer de novo. A ressurreição de Cristo produz por toda a parte rebentos deste mundo novo; e, ainda que os cortem, voltam a despontar, porque a ressurreição do Senhor já penetrou a trama oculta desta história; porque Jesus não ressuscitou em vão. Não fiquemos à margem desta marcha da esperança viva”!
Tudo isso se manifesta de maneira misteriosa, e nem sempre vemos estes rebentos, e a fecundidade é invisível, não pode ser contabilizada, mas devemos acreditar com certeza que os frutos aparecerão e que nenhuma obra de amor se perde. Esta força do ressuscitado se manifesta pelo Espírito Santo que é a garantia de tudo, “trabalha como quer, quando quer e onde quer... Para manter vivo o ardor missionário, é necessária uma decidida confiança no Espírito Santo, porque Ele ‘vem em auxílio da nossa fraqueza’ (Rm 8, 26). Mas esta confiança generosa tem de ser alimentada e, para isso, precisamos de O invocar constantemente... O Espírito Santo bem sabe o que faz falta em cada época e em cada momento. A isto chama-se ser misteriosamente fecundos”!
A celebração da Páscoa no ano do jubileu reacende a chama viva da fé no Senhor ressuscitado, e fortalece nossa confiança no caminho de “peregrinos da esperança”.